segunda-feira, 24 de janeiro de 2011


O que é um beijo pra vocês? − perguntei, na lata.
− Duas bocas juntas, com duas línguas rodando no meio − esclareceu Alice.
− Isso é um beijo. E só isso pode ser considerado um beijo? Boca com boca, sempre?
− Não, Malu! Tem beijo no rosto, também − entrou Nanda
na conversa.
− Que consiste em encostar os lábios numa bochecha alheia,
né? − insisti.
− Ai, tá chato isso! O que foi que aconteceu? − irritou-se Duca. − Tem a ver com o Tavinho?
− Tem.
− Malu, você ficou com o cara mais lindo da escola e quer saber de beijo? Não vai me dizer que ele beija mal! Prefiro a morte a saber que o Tavinho beija mal − exagerou Alice.
− Tavinho beija... direitinho.
− Direitinho? − fizeram as três em coro. − Isso é péssimo! − acrescentou Nanda.
− Direitinho é a forma mais ou menos fofa de dizer que ele beija muito mal! − pontuou Duca.
− Gente, é que...
− Caraca! O que foi que ele fez? − interessou-se Alice.
− Ele... ai, gente! Ele lambeu meu queixo. E minhas bochechas!
Silêncio total, antes da explosão num coletivo e sonoro:
− Écaaaaaaa!!!
− Por que ele lambeu sua cara? − quis saber Alice, com a fisionomia tão enojada que parecia que mil baratas estavam passeando pela sua perna.
− Não sei! Achei um nojo. E me senti um picolé. Meu rosto ficou todo babado.
− E o que você fez?
− Depois da lambida no queixo, achei só que ele tinha errado o caminho da boca e não disse nada. Mas, depois que ele passou aquela língua cheia de cuspe pelas minhas rosadas
bochechinhas, achei que era hora de perguntar se ele estava maluco.
− E ele?
− Duca, ele disse que acha minha cara tão linda que tem que beijá-la inteira.
− Fofo!
− Fofo!? Beijar é uma coisa, lamber é outra, Nanda! Estou com nojo do Tavinho. Não quero nunca mais ficar com ele. E ele senta do meu lado. O que eu faço?
− Falta à aula uma semana − aconselhou, pessimamente, Alice.
− Nada disso. Diz pra ele que esse negócio de lambida é péssimo, e que você só fica com ele de novo se ele perder essa mania idiota.
− Boa! É isso que eu vou fazer, Duca.
− E se ele parar com esse hábito esquisito e você não quiser mais ficar com ele, pode recomendá-lo para as amigas, tá? − brincou Alice.
− Tá, pateta! − ri com elas.
No dia seguinte, conversei com o Tavinho. Expliquei que achava melhor continuarmos amigos em vez de virarmos ficantes, e ele reagiu melhor do que eu imaginava.
Mas não podia recomendá-lo para ninguém, como Alice queria. Além de lambedor de bochecha, quando ele beijava, os dentes batiam, a língua quase não mexia, a boca parecia
uma gelatina e rolava uma baba lateral. Ou seja, o beijo dele era bem pior do que... direitinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário